Brasil enfrenta uma epidemia de obesidade

Em 2025, estima-se que 31% da população adulta brasileira tenha obesidade, o que representa cerca de um em cada três adultos no país, de acordo com o Atlas Mundial da Obesidade 2025 da Federação Mundial da Obesidade. Esse dado indica que quase sete em cada dez brasileiros adultos têm algum tipo de excesso de peso, incluindo sobrepeso e obesidade, ou seja, 68% da população adulta do Brasil.

Dados do Ministério da Saúde mostram que a proporção de adultos com obesidade no Brasil dobrou entre 2006 e 2023, passando de 11,8% para 24,3%. Em 2019, cerca de 25% da população adulta brasileira, o representa 41 milhões de pessoas, estava obesa, e mais de 60% estava com sobrepeso, o que totaliza aproximadamente 96 milhões de pessoas acima do peso ideal.

Estima-se que 81% dos brasileiros tenham obesidade

Em 2024, a obesidade afetou cerca de 9 milhões de pessoas no Brasil, com o aumento da doença sendo agravado por fatores como a pandemia de Covid-19, que levou ao aumento do sedentarismo e do consumo de alimentos calóricos. Percebe-se a partir destes dados que o crescimento do número de obesos no país vem aumentando de maneira significativa ano após ano.

As projeções são preocupantes pois indicam que essa tendência de crescimento da obesidade deve continuar, com um aumento significativo previsto para as próximas décadas, caso medidas efetivas não sejam implementadas. Estima-se que até 2044, 48% da população adulta brasileira estará obesa, o que representa quase a metade da população adulta.

Pode-se dizer que existe uma epidemia de obesidade no Brasil, pois os números de pessoas com sobrepeso e obesidade têm aumentado significativamente nas últimas décadas. A obesidade é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma doença crônica e uma epidemia. A endocrinologista Sandra Campos, do hospital Unique, ressalta que a obesidade é uma doença crônica que exige acompanhamento médico e mudanças contínuas no estilo de vida.

Sandra Campos, endocrinologista.
Foto: divulgação

“O cenário no Brasil é desanimador. Houve crescimento expressivo da obesidade nos últimos 10 anos, atingindo 20% da população adulta e ainda é mais prevalente em mulheres e em pessoas com menor escolaridade. Esse crescimento não se explica apenas pela alimentação. Vivemos em um ambiente que favorece o ganho de peso. Há excesso de alimentos ultraprocessados e em porções cada vez maiores, sedentarismo, estresse, pouco sono e desigualdade social. O resultado é um aumento significativo da obesidade e impacto importante na saúde pública”, afirma.

Por conta do efeito nefasto do aumento da obesidade no Brasil, foi criado o Dia Nacional de Prevenção da Obesidade, celebrado em 11 de outubro, com o objetivo de conscientizar a população sobre a importância da prevenção da obesidade. A data foi instituída em 2008, por meio da Lei nº 11.721.

Causas e riscos

A médica alerta que o aumento da obesidade no Brasil está ligado a diversos fatores, como o sedentarismo, o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, o estresse, a baixa qualidade do sono e questões sociais e psicológicas. “É fundamental entender que não se trata apenas de estética, mas de saúde. A obesidade aumenta o risco de doenças e outras condições graves”, alerta a endocrinologista.

Fatores genéticos podem aumentar a predisposição ao maior ganho de peso, que levam ao sobrepeso e à obesidade, mas por si só não é sentença de obesidade. “A genética aumenta a predisposição à obesidade, mas não determina sozinha o destino do paciente. Existem casos raros de obesidade causada por um único gene, mas, na maioria das pessoas, os genes interagem com o ambiente

O envelhecimento também é um fator que contribui para o aumento de peso. “Com o envelhecimento, o metabolismo desacelera, há perda de massa muscular e alterações hormonais que favorecem o acúmulo de gordura. Além disso, o corpo ativa mecanismos de defesa contra a perda de peso, aumentando a fome e reduzindo o gasto calórico. Por isso é tão importante associar dieta saudável ao exercício de força, que ajuda a preservar a massa muscular”, esclarece Sandra Campos.

O sobrepeso e a obesidade impactam negativamente na saúde da população, aumentando o risco de surgimento de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes tipo 2, hipertensão, doenças cardiovasculares – incluindo Acidente Vascular Cerebral (AVC), que causam mais de 60 mil mortes prematuras no Brasil –, além de alguns tipos de câncer, além de afetar a saúde mental.

Prevenção e tratamentos

Sandra Campos afirma que, segundo a OMS, as populações mais ativas e com menor consumo de ultraprocessados têm menor risco de engordar. No entanto, a médica destaca que não depende só da força de vontade, a obesidade é uma doença crônica e precisa ser encarada como tal, com acompanhamento médico, e que a prevenção começa na rotina.

“O ideal é priorizar alimentos frescos e reduzir os ultraprocessados e bebidas açucaradas; manter uma rotina regular de atividade física, cumprindo uma média de 200 minutos por semana, incluídos os exercícios de força, cerca de 30 minutos por dia; menos tempo de TV, computador e celular; além de dormir bem. Políticas públicas para reduzir marketing e consumo de ultraprocessados também ajudariam muito. Essas são medidas simples, mas que reduzem o risco de ganho de peso”, explica.

A médica informa que atualmente existe um bom arsenal terapêutico para tratar a obesidade, mas que a base do tratamento é sempre a mudança de hábitos. “Em casos específicos, é possível o uso de novos medicamentos como a semaglutida e a tirzepatida, que podem levar a perdas de 15% a 22% do peso e ainda melhoram doenças como diabetes, fígado gorduroso e apneia do sono”.

Para quem apresenta obesidade grave, Sandra Campos indica a cirurgia bariátrica como sendo a opção mais eficaz e duradoura, com perda de 25% a 30% do peso e grande impacto na redução do risco cardiovascular. “O ideal é individualizar o tratamento de acordo com as características e necessidade de cada um: para alguns, medicamento; para outros, cirurgia”.

Banalização do uso de canetas emagrecedoras

É recorrente diariamente na imprensa a notícia de apreensão das chamadas canetas emagrecedoras falsificadas, a comercialização irregular e indicação de uso do produto por pessoas que não são capacitadas para tal. “Infelizmente existe uma banalização perigosa. Por exemplo, o uso da expressão caneta emagrecedora induz à ideia de uma solução mágica. É extremamente perigoso o uso indiscriminado das tais canetas, em geral vendidas irregularmente, falsificadas ou manipuladas sem controle adequado”.

A médica alerta que o uso indiscriminado das canetas emagrecedoras expõe os pacientes a doses incorretas, efeitos adversos graves e até complicações como pancreatite. Outro risco é a interrupção precoce do tratamento, que leva ao reganho rápido de peso. “Por isso, o uso só deve ser feito com receita médica, acompanhamento regular e em farmácias autorizadas. O uso indiscriminado e sem acompanhamento médico é um risco real: automedicação e falsificações colocam vidas em perigo”.

As canetas de emagrecimento – como Wegovy, Mounjaro, Ozempic e Saxenda – são medicamentos injetáveis com princípios ativos, como semaglutida e liraglutida, que agem no controle da fome e na saciedade, auxiliando na perda de peso. Essas substâncias, inicialmente desenvolvidas para o diabetes tipo 2, foram aprovadas para a obesidade e devem ser usadas apenas sob prescrição e acompanhamento médico, como parte de um plano de tratamento que inclui alimentação e exercícios.

Serviço

Dia Nacional de Combate à Obesidade
Pauta: Brasil enfrenta uma epidemia de obesidade
Fonte especialista: Fonte especialista: Endocrinologista Sandra Campos. É graduada em Medicina e cursou residência em Endocrinologia na Universidade Federal de Uberlândia; membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e ex-vice presidente da SBEM Goiás.


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