Violência contra mulheres expõe escalada de brutalidade em casos recentes

Os últimos dias foram marcados por dois casos graves de violência contra mulheres em São Paulo que, embora ocorram em contextos distintos, expõem a mesma raiz: a naturalização do machismo que transforma conflitos em agressões extremas. Na zona norte da capital, Tainara Souza Santos, de 31 anos, foi atropelada e arrastada por cerca de um quilômetro por Douglas Alves da Silva, de 26 anos, crime que a Polícia Civil investiga como tentativa de feminicídio. A vítima permanece internada no Hospital Municipal Vereador José Storopolli e teve as pernas mutiladas após ser arrastada presa sob o veículo. O agressor, que fugiu logo após o ataque, foi preso no domingo (30). De acordo com a investigação, os dois haviam mantido um relacionamento breve, e o crime teria sido motivado por um surto de ciúmes e descontrole.

Luanna Debs, psicóloga

Enquanto o caso de Tainara ganhou repercussão pela brutalidade, outro episódio voltou a evidenciar a violência doméstica. O influenciador conhecido como “Calvo do Campari” é investigado por agredir a namorada em mais de 11 ocasiões, segundo laudo pericial. As agressões, cometidas dentro da própria residência, incluíram tapas, chutes e puxões de cabelo. Segundo o depoimento da vítima, os ataques teriam ocorrido após ela se negar a manter relações sexuais. O homem chegou a ser preso em flagrante, mas foi liberado após audiência de custódia, permanecendo sujeito a medidas protetivas.

Para a psicóloga Luanna Debs, especialista em Psicologia Jurídica, relacionamentos abusivos e trauma, os dois episódios ilustram a mesma dinâmica. “Há um padrão claro de controle e punição quando o homem percebe que não tem mais domínio sobre a mulher. O agressor age sob a lógica da posse, como se o corpo e as escolhas dela fossem propriedades suas”, afirma. Ela lembra que a violência raramente começa com episódios extremos. “Antes da agressão física, existem sinais que muitas vezes são ignorados: ciúmes excessivo, vigilância, humilhações, isolamento. Esses comportamentos fazem parte de um ciclo que, se não interrompido, tende a escalar.”

Os casos também reacendem o debate sobre a eficácia das medidas de prevenção e sobre a necessidade de uma educação social que combata o machismo desde cedo. Para Debs, a mudança precisa ser estrutural. “Não estamos falando apenas de indivíduos violentos, mas de uma cultura que não reconhece a violência desde seus primeiros sinais, romantiza e banaliza alguns abusos e autoriza esses comportamentos. Quando a sociedade relativiza o controle, normaliza a agressividade e culpabiliza a vítima, ela contribui diretamente para a repetição desses crimes.”

A sucessão de episódios violentos reforça a urgência de políticas públicas mais eficientes tanto de prevenção, que se refere a conscientização e educação com perspectiva de gênero de meninos e meninas, quanto de intervenção, com maior acolhimento e cuidado às vítimas e uma resposta penal capaz de inibir agressões e pósvenção, quando se continua acompanhando a vítima após a sisuda do relacionamento e entendendo o que ela precisa de recursos para seguir em frente e também quando cria-se políticas públicas para conscientização dos abusadores, como grupos reflexivos. Mais do que isso, evidencia a necessidade de transformar práticas e discursos que sustentam a desigualdade de gênero. Enquanto essa mudança não acontece, casos como os de Tainara e da jovem agredida pelo influenciador seguem se multiplicando, deixando claro que a violência contra a mulher permanece como uma das mais graves emergências sociais do país.

Serviço
Violência contra mulheres expõe escalada de brutalidade em casos recentes

Psicóloga Luanna Debs

Contato: (62) 98521-2994

Instagram: @debsluanna


Publicado

em

por

Tags:

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *