Atividades infantis, saraus, poesias, oficinas, contações de histórias, encontros com estudantes, intervenções artísticas, lançamentos de livros, prêmio literário, debates sobre: bullying, floresta Amazônica, jornalismo, romances e premiações literárias. Esse foi o resumo da quinta-feira (21) na 24ª Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto que trouxe Raphael Montes, Mílton Jung, Milton Hatoum, Leny Kyrillos, entre outros nomes da literatura.
Encontro com estudantes
No Theatro Pedro II, o Projeto Combinando Palavras reuniu cerca de mil estudantes com o escritor Milton Hatoum, eleito no início de agosto para a cadeira Nº 6 da Academia Brasileira de Letras. À tarde, o palco recebeu o quadrinista e escritor Rafael Calça, autor de Jeremias: Pele, que dialogou com alunos de diferentes escolas. A programação também trouxe a palestra “Fala, que o mundo escuta”, com a poeta Luz Ribeiro, no auditório Meira Junior. Em tom de incentivo, ela ressaltou a importância de ocupar os espaços da arte. “Desejo que a palavra, a dança, qualquer manifestação artística de vocês ganhe corpo, voz, movimento. Que a gente se encontre nos sonhos por aí”, disse.
Limites do bullying
No decorrer do dia, houve ainda oficinas práticas, lançamentos literários, contações de histórias e debates temáticos. Entre eles, uma discussão sobre bullying, com o professor e pesquisador Cláudio Romualdo, autor do livro Influência Silenciosa. Segundo o professor, o conceito deve ser compreendido dentro da literatura especializada, lembrando que as primeiras pesquisas sobre o tema surgiram na Noruega, na década de 1970. Romualdo destacou também a dificuldade de identificar o problema no ambiente escolar. “O bullying causa muitas dores e uma delas é o silêncio. A vítima tende a se calar. Pais, professores e profissionais de saúde precisam da voz da vítima para perceber sinais. Não é só pelos fatores externos”, disse.
Entre esses indícios, o professor apontou mudanças de comportamento e somatizações físicas. “É possível observar crianças e adolescentes que começam a evitar a escola, relatando febre, dor de cabeça ou de estômago. Muitas vezes, isso reflete um ambiente hostil. Também pode haver queda de desempenho escolar e, em alguns casos, evasão, sobretudo no ensino público e entre populações mais vulneráveis”, destacou.
Para Romualdo, compreender essas nuances é essencial para prevenir casos e oferecer apoio. “É preciso atenção permanente. Só assim conseguiremos identificar sinais e enfrentar a influência silenciosa que o bullying exerce sobre crianças e adolescentes”, concluiu.
Povos originários
Na Tenda Sesc Senac, o público se reuniu para conhecer o trabalho do arqueólogo Eduardo Neves e do indigenista Daniel Cangussu, que trouxe para a FIL o lançamento de seu livro “Vestígios da Floresta – povos indígenas isolados da Amazônia”, tema homônimo ao do bate-papo mediado pela jornalista Maria Zulmira de Souza, idealizadora do programa Repórter Eco, da TV Cultura. Na conversa, Neves e Cangussu explicaram como se desenrola, na prática, os trabalhos de garimpar informações sobre os povos indígenas isolados, especialmente na região da Amazônia.
Daniel Cangussu revelou que o Brasil possui 130 grupos indígenas em situação de isolamento somente na região amazônica, mas que apenas 30 são identificados. “São povos brasileiros refugiados dentro do próprio país, que optaram por não ter contato externo em função de fatores diversos, que incluem até experiências traumáticas com situações de violência e extermínio”, explicou Cangussu.
Eduardo Neves, que também é professor na USP, lembrou dos impactos das doenças trazidas pelos europeus durante a colonização, que tiveram efeitos avassaladores aos indígenas brasileiros. “Hoje, a população indígena no país é estimada em 30 milhões de pessoas, praticamente um terço do que havia na época do descobrimento”, disse o arqueólogo. Outro ponto abordado no encontro foi a política do Não Contato, adotada pelo Brasil em 1987, que respeita o direito de isolamento dos povos indígenas. “Nosso trabalho não é localizar as pessoas, mas, sim, tentar entendê-las aprimorando nosso olhar sobre o que elas expressam pelos vestígios e rastros que deixam na floresta para, em última instância, protegê-las”. Segundo ele, o importante é tirá-los da invisibilidade, os mantê-los invisíveis porque são povos que decidiram não aceitar o mundo como possibilidade viável. “Contamos histórias escondidas e que foram apagadas, por meio de vestígios materiais deixados por diversas populações”, completou Eduardo Neves. No Maranhão, por exemplo, a extração do mel é o principal vestígio monitorado pelas expedições que trabalham com povos indígenas isolados.
Desmistificar a ideia de indígenas bravos e selvagens é outro recorte do trabalho de Daniel Cangussu. “Essas pessoas se isolaram porque sofreram alguma agressão. Há grupos indígenas formados por apenas uma ou duas pessoas, que viram toda a tribo ser exterminada”, contou o indigenista, que alertou sobre as novas ameaças que cercam essa população brasileira.
Literatura
A agenda noturna de quinta-feira na 24ª FIL promoveu Salão de Ideais com Milton Hatoum, um dos mais renomados escritores brasileiros, recentemente imortalizado pela Academia Brasileira de Letras. Autor de romances, contos, crônicas, obras infantis e traduções, o também professor manauara falou sobre seus processos de escrita, geralmente longos, de sua paixão pelos romances de formação, modismos literários e sobre seu novo título – “Dança dos Enganos” -, que completa a trilogia O Lugar Mais Sombrio, considerado o trabalho mais ambicioso de Hatoum.
O mediador Felipe Narita abriu a conversa abordando justamente com o desenvolvimento deste trabalho. Em resposta, Milton Hatoum contou que reescreveu muita coisa de Dança dos Enganos em função do momento histórico brasileiro durante o período em que trabalhava no livro. “Fiquei muito tocado com o que aconteceu no Brasil durante as duas pandemias. Uma da covid e a outra daqueles quatro anos nefastos e nada saudosos do Governo anterior. Às vezes, o momento histórico influi muito no que estamos escrevendo e, sim, reescrevi muita coisa nesse livro”, atestou o escritor.
Apaixonado por romances de formação – em que se aborda a vida dos personagens e também do país -, Milton Hatoum assumiu um fascinado pela passagem da adolescência para a vida adulta e pelo processo de como os indivíduos se formam nos diversos âmbitos da vida.
Literatura de crime
Raphael Montes também esteve no Teatro Municipal de Ribeirão Preto. A atividade, anteriormente agendada para a sexta-feira (22/08), foi antecipada em um dia devido a alterações na agenda do escritor e roteirista, com trabalhos de sucesso, como os livros Suicidas, Dias Perfeitos e Jantar Secreto, as séries Bom Dia, Verônica e Beleza Fatal, e o filme A Menina que Matou os Pais.
Em bate-papo conduzido por Carolina Freitas, Raphael Montes relembrou os primeiros contatos com os livros. “Em casa, o livro era visto com um produto de elite, não estava presente no ambiente familiar, exceto por uma tia-avó, que um dia me presenteou com uma obra da Agatha Christie, e foi aí que tudo começou, por volta dos 12 anos de idade”, comentou o autor, hoje com 34 anos, que já no início da adolescência tomava contato com outro produto que mais tarde o faria reconhecido em todo o Brasil. “Em casa, o que fazia parte da rotina era a televisão e, em especial, as novelas”, destacou.
Questionado sobre onde se sente melhor, nas páginas de um livro ou na tela da TV, Raphael não teve dúvidas. “A relação do escritor com o leitor é muito mais relevante do que com o telespectador. Nas páginas de um livro há toda uma cumplicidade entre quem escreve com quem lê. Uma obra literária começa com a imaginação, com aquilo que está na cabeça do autor e vai encontrar ressonância no leitor, que vive aquilo que foi imaginado do seu jeito”, declarou.
Sobre os futuros possíveis da literatura de suspense brasileira, o escritor, que já tem obras publicadas em mais de 25 países, incluindo traduções em inglês, espanhol, italiano, francês, alemão e holandês, foi otimista. Ele contou que quando começou a escrever, muitas pessoas o questionavam sobre o fato de querer fazer suspense, histórias policiais no Brasil – “um país solar, de uma imensa alegria – mas os leitores gostaram de ver referências próximas à sua realidade, um crime que aconteceu em Copacabana e não em um bairro de Londres”. Ele relatou que percebe que lá fora as pessoas querem conhecer outras ambientações. “O livro é isso: apresentar outros cenários, despertar a curiosidade sobre outros países. Então, vejo um bom futuro para a literatura brasileira, especialmente no suspense”, finalizou.
Sobre a FIL
A FIL – Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto) consagrou-se como um dos maiores eventos culturais do país e tornou-se internacional em 2020. Possui 25 anos de história e realiza neste ano a sua 24ª edição. A cada ano, a programação reúne autores, artistas, intelectuais, educadores, estudantes e participantes de diversas localidades. Todas as atividades são gratuitas e abertas à população, o que consolida o objetivo primordial de fomentar a leitura e de contribuir para ampliar os números de leitores do país. Em 2024, o evento registrou público de 250 mil pessoas, presença de 260 escritores e mais de 400 atividades realizadas. O impacto na economia de Ribeirão Preto foi da ordem de R$ 5 milhões.
A programação completa da feira está disponível no site da Fundação do Livro e Leitura de Ribeirão Preto: www.fundacaodolivroeleiturarp.com. A realização conta com a parceria da Prefeitura Municipal por meio das Secretarias de Governo, Casa Civil, Educação, Cultura e Turismo, Infraestrutura, Meio Ambiente, Esportes, Fiscalização Geral e Saerp; do Ministério da Cultura e Governo do Estado de São Paulo por meio da Secretaria Estadual da Cultura, Economia e Indústrias Criativas, Sesc e Senac.
Patrocínio Diamante: Usina Alta Mogiana
Patrocínio Ouro: GS Inima Ambient
Patrocínio Prata: Necta Gás Natural e Savegnago
Patrocínio: Apis Flora, AZ Tintas, Caldema, Caseli Tracan, Engemasa, RibeirãoShopping, Riberfoods, Pedra Agroindustrial S/A e TMA Máquinas.
Instituição Cultural: Sesc e Senac
Apoio Cultural: ACI-RP, Automotiva Cestari, Lopes Material Rodante, Macopema, Monreale Hotel, Santiago e Cintra Geotecnologias, Grupo Suprir, Tonin Superatacado e Santa Helena.
Apoio Institucional: Fundação Dom Pedro II, Theatro Pedro II, Biblioteca Sinhá Junqueira, CUFA Ribeirão Preto, Ong Arco-Íris, Coletivo Abayomi, A9 – Água Alcalina, Alma (Academia Livre de Música e Arte), IPCIC – Instituto Paulista de Cidades e Identidades Culturais, Casa Grafite Comunicação e Cultura, Diretoria de Ensino de Ribeirão Preto, ETEC José Martimiano da Silva, Educandário, Sesi, Centro Universitário Barão de Mauá, Centro Universitário Moura Lacerda, Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp), Faculdade Metropolitana, Adevirp, Fundação Dorina Nowill Para Cegos, Ann Sullivan do Brasil, Associação de Surdos de Ribeirão Preto, Caeerp, Dr. Cãopaixão – Projeto Cães de Terapia, Fada, RibDown, NeuroRib, Conventions & Visitors Bureau, Painew, Verbo Nostro Comunicação Planejada, Film Commission da Região Metropolitana de Ribeirão Preto, Instituto do Livro, RPMobi, Coderp, Guarda Civil Municipal e Polícia Militar.
Mais informações:
www.fundacaodolivroeleiturarp.com
Instagram: @fundacaolivrorp
Facebook: @fundacaodolivroeleiturarp
YouTube: /FeiraDoLivroRibeirao
Twitter: @FundacaoLivroRP
Sobre a Fundação
A Fundação do Livro e Leitura de Ribeirão Preto é uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos, responsável pela realização da Feira Internacional do Livro da cidade, hoje considerada a segunda maior feira a céu aberto do país e também por feiras em municípios do interior paulista. Com trajetória sólida, projeção nacional e agora internacional, a entidade estabeleceu sua experiência no setor cultural e, atualmente, além da feira, realiza muitos outros projetos ligados ao universo do livro e da leitura, com calendário de atividades durante todo o ano. A Fundação do Livro e Leitura se mantém com o apoio de mantenedores e patrocinadores, com recursos diretos e advindos das leis de incentivo, em especial do Pronac e do ProAc.
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