A programação da 24ª FIL – Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto movimentou o último domingo (17/8) com atrações para toda a família. A esplanada do Theatro Pedro II, a Praça XV e os locais culturais do centro da cidade receberam atividades culturais e literárias, com destaque para o show de Hélio Ziskind e Banda com o show “Frevo é Muito Bom!”, que reuniu crianças em um repertório marcado por canções conhecidas da infância.

A Biblioteca Sinhá Junqueira trouxe atividades voltadas para diferentes públicos. Pela manhã, a Mesa Autores da Casa: Literatura Infantil reuniu escritores independentes da região para discutir o papel da literatura na formação das crianças e a valorização da produção local. “A troca proporcionada por este encontro nos incentiva a mostrar nosso trabalho. Essa convivência gera amizades, parcerias e curiosidade do público, que acaba conhecendo obras diferentes”, disse. Para o escritor José Hilton, que participa pela terceira vez na FIL, o espaço é relevante para os autores independentes. “Falamos que o coração da FIL é a Praça XV, mas o estande dos autores locais é a alma. Aqui me senti mais acolhido do que em grandes bienais”, declarou. Para a autora Karina Gera, a literatura infantil tem impacto direto na formação educacional das novas gerações. “O livro se tornou o tijolo que vai construir os caminhos que a minha filha vai trilhar. Vejo que, a partir de uma história, ela muda a forma como enxerga o mundo. Por isso, agora também estudo Pedagogia, para colocar nos meus livros elementos que ajudem na parte educacional”, explicou. “Ver o trabalho de outros autores inspira e amplia as possibilidades criativas. Essa convivência nos ajuda a construir uma literatura melhor para as crianças”, completou a escritora Kátia Sentinaro.

Reflexão e testemunho
Ainda durante o período da manhã, o Salão de Ideias, com o ator e cineasta Evandro Manchini, trouxe reflexões de sua obra “Poder Falar – Quebrando o silêncio em torno do HIV”, lançada pela Cândido Editora, com prefácio da infectologista Marcia Rachid. O autor, que é portador do vírus HIV há 10 anos, destacou a importância de romper o silenciamento imposto pelo estigma, trazendo a literatura como espaço de reparação histórica e diálogo afetivo sobre HIV e Aids. “A maior cura que precisamos buscar é a do preconceito e da desinformação. Hoje, já é possível viver plenamente com HIV, mas ainda falta naturalizar essa conversa na sociedade”, afirmou o autor, que compartilhou sua própria trajetória para mostrar que é possível viver com qualidade de vida e dignidade.
A gente envelhece porque deu tudo certo!
Outra atividade que a FIL trouxe foi um debate sobre envelhecimento com a escritora Lena Nóbrega, no Quintal da Biblioteca Sinhá Junqueira. A obra A gente envelhece porque tudo deu certo – Viva, foi inspirada em seu livro (Não) quero me aposentar. O encontro reuniu leitores interessados em refletir sobre a passagem do tempo como parte natural da vida. “Envelhecer é sinal de que conseguimos superar desafios, escrever a nossa história e seguir vivendo. É preciso enxergar esse momento não como um fardo, mas como uma conquista que merece ser celebrada”, afirmou a autora.
Premiações
O domingo marcou também a premiação do Concurso Literário Professora Zoraide Rocha de Freitas, promovido pela Academia Ribeirãopretana de Letras (ARL) em parceria com a Fundação do Livro e Leitura de Ribeirão Preto. A edição deste ano reuniu mais de 500 inscrições, com participantes de 77 cidades brasileiras e de países como Portugal, Alemanha e França.
Habilidades para o Futuro
A escritora e especialista em inovação, Martha Gabriel, trouxe na Tenda Sesc Senac reflexões sobre seu mais recente livro A (r)evolução das habilidades para o futuro do trabalho na era da inteligência artificial e destacou que a humanidade vive hoje uma aceleração tecnológica sem precedentes, que exige novas formas de enxergar o futuro. Para ela, não basta mais reagir às mudanças, como se fazia até o século passado: é preciso aprender a antecipar cenários possíveis, prováveis e desejáveis, para que escolhas feitas no presente conduzam a caminhos melhores no futuro.
Como exemplo, Martha citou a pauta climática, trabalhada por estudiosos desde as últimas décadas. “Falamos de sustentabilidade há 30, 40 anos porque lá atrás já existiam cenários mostrando o que aconteceria se não cuidássemos do planeta. Isso permitiu avanços importantes. Agora, é a mesma coisa: precisamos enxergar cenários futuros e agir no presente para que daqui a 10 anos estejamos no caminho certo”, explicou. Para a autora, “a chave é entender que não se trata apenas de prever futuros possíveis, prováveis e plausíveis, mas também de atuar nos futuros preferíveis”.
A especialista também reforçou que a discussão sobre o futuro não deve estar limitada a profissões, mas sim às habilidades necessárias em qualquer área. “Não faz mais sentido falar de profissões, porque elas mudam muito rápido. Faz sentido falar de habilidades que permitem a qualquer profissional enxergar o que está acontecendo e se adaptar”, afirmou. Ao abordar o impacto da inteligência artificial, Martha alertou para o risco de priorizar apenas a produtividade. “Não é sobre fazer mais, é sobre fazer melhor. Nem tudo que é mais é bom”, concluiu.
Pensando a educação
No início da tarde, a Tenda Sesc Senac ficou lotada para ouvir o autor homenageado pela FIL, Matheus Arcaro. O professor, escritor e filósofo ribeirão-pretano conduziu o bate-papo “Educação: Formação ou Formatação?” que abordou em uma conversa com o público os sentidos da educação, crescimento, repressão, escolas e desafios.
Em um apanhado histórico, Arcaro trouxe nomes que, com seus pensamentos, ajudaram a moldar a educação que permanece até hoje, como Francis Bacon, René Descartes, Isaac Newton, Auguste Comte, passando por pensadores que propõem novos modelos de pensar o ensino, como Michel Foucault, Edgar Morin e Paulo Freire.
“O que vemos hoje em sala de aula é que alunos, professores e currículos não estão no mesmo mundo. Os alunos são do século XXI, os professores são do século XX e o modelo pedagógico é do século XIX. Assim, não é possível diálogo e sem diálogo não existe educação”, refletiu o autor.
Música para crianças
Encantamento e nostalgia definem a passagem do compositor Hélio Ziskind pela FIL no domingo. Enquanto os pequenos tinham a oportunidade de ver de perto o músico responsável por sucessos como “Ratinho tomando banho” e “Que som é esse?”, os pais reviviam uma trilha sonora que marcou gerações em programas da TV Cultura, como Castelo Rá Tim Bum, X-Tudo e Cocoricó.
“Compor para criança exige que você a conduza, em qualquer tema que seja. É preciso conhecer a visão de mundo das crianças, as histórias que interessam a elas, pois a música vai ser sempre como um brinquedo”, disse Ziskind no bate-papo “Música para infância”, conduzido pelo cantor e compositor Márcio Coelho, na Tenda Sesc Senac.
“No meu trabalho, eu sempre senti essa conexão. As crianças percebem que têm algo em comum entre o que eu crio e o que elas sentem”, completou o músico que, mais tarde, voltou ao palco principal do Theatro Pedro II para a apresentação do show “Frevo é muito bom!”, título de seu novo álbum, em que mostra canções inéditas, mas também revisita alguns de seus clássicos no ritmo da música tipicamente pernambucana.
Vidas Narradas
No final do dia, a jornalista e escritora Daniela Penha conduziu a palestra “Vidas Narradas: o que aprendi escrevendo 500 trajetórias fantásticas de pessoas comuns”, no auditório da Biblioteca Sinhá Junqueira. A atividade reuniu leitores e interessados em compreender como as narrativas de vida podem se transformar em pontes de empatia e conexão. “Somos afetados pelas histórias e elas aproximam mundos e dissolvem preconceitos. Não adianta pensarmos que não existe, mas existe preconceito sim. Quando temos a possibilidade de ler a história de alguém, ela pode dissolver isso”.
A programação completa da FIL 2025 está disponível no site oficial da Fundação do Livro e Leitura de Ribeirão Preto: www.fundacaodolivroeleiturarp.com
A realização da FIL conta com a parceria da Prefeitura Municipal por meio das Secretarias de Governo, Casa Civil, Educação, Cultura e Turismo, Infraestrutura, Meio Ambiente, Esportes, Fiscalização Geral e Saerp; do Ministério da Cultura do Governo Federal, da Secretaria Estadual da Cultural, Economia e Indústria Criativa, Sesc e Senac.
Sobre a FIL
A FIL – Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto) consagrou-se como um dos maiores eventos culturais do país e tornou-se internacional em 2020. Possui 25 anos de história e realiza neste ano a sua 24ª edição. A cada ano, a programação reúne autores, artistas, intelectuais, educadores, estudantes e participantes de diversas localidades. Todas as atividades são gratuitas e abertas à população, o que consolida o objetivo primordial de fomentar a leitura e de contribuir para ampliar os números de leitores do país. Em 2024, o evento registrou público de 250 mil pessoas, presença de 260 escritores e mais de 400 atividades realizadas. O impacto na economia de Ribeirão Preto foi da ordem de R$ 5 milhões.
Patrocínio Diamante: Usina Alta Mogiana
Patrocínio Ouro: GS Inima Ambient
Patrocínio Prata: Necta Gás Natural e Savegnago
Patrocínio: Apis Flora, AZ Tintas, Caldema, Caseli Tracan, Engemasa, RibeirãoShopping, Riberfoods, Pedra Agroindustrial S/A e TMA Máquinas.
Instituição Cultural: Sesc e Senac
Apoio Cultural: ACI-RP, Automotiva Cestari, Lopes Material Rodante, Macopema, Monreale Hotel, Santiago e Cintra Geotecnologias, Grupo Suprir, Tonin Superatacado e Santa Helena.
Apoio Institucional: Fundação Dom Pedro II, Theatro Pedro II, Biblioteca Sinhá Junqueira, CUFA Ribeirão Preto, Ong Arco-Íris, Coletivo Abayomi, A9 – Água Alcalina, Alma (Academia Livre de Música e Arte), IPCIC – Instituto Paulista de Cidades e Identidades Culturais, Casa Grafite Comunicação e Cultura, Diretoria de Ensino de Ribeirão Preto, ETEC José Martimiano da Silva, Educandário, Sesi, Centro Universitário Barão de Mauá, Centro Universitário Moura Lacerda, Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp), Faculdade Metropolitana, Adevirp, Fundação Dorina Nowill Para Cegos, Ann Sullivan do Brasil, Associação de Surdos de Ribeirão Preto, Caeerp, Dr. Cãopaixão – Projeto Cães de Terapia, Fada, RibDown, NeuroRib, Conventions & Visitors Bureau, Painew, Verbo Nostro Comunicação Planejada, Film Commission da Região Metropolitana de Ribeirão Preto, Instituto do Livro, RPMobi, Coderp, Guarda Civil Municipal e Polícia Militar.
Mais informações:
www.fundacaodolivroeleiturarp.com
Instagram: @fundacaolivrorp
Facebook: @fundacaodolivroeleiturarp
YouTube: /FeiraDoLivroRibeirao
Twitter: @FundacaoLivroRP
Sobre a Fundação
A Fundação do Livro e Leitura de Ribeirão Preto é uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos, responsável pela realização da Feira Internacional do Livro da cidade, hoje considerada a segunda maior feira a céu aberto do país e também por feiras em municípios do interior paulista. Com trajetória sólida, projeção nacional e agora internacional, a entidade estabeleceu sua experiência no setor cultural e, atualmente, além da feira, realiza muitos outros projetos ligados ao universo do livro e da leitura, com calendário de atividades durante todo o ano. A Fundação do Livro e Leitura se mantém com o apoio de mantenedores e patrocinadores, com recursos diretos e advindos das leis de incentivo, em especial do Pronac e do ProAc.
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