O Dia Nacional do Surdo, celebrado em 26 de setembro, marca uma data de reflexão sobre os direitos e a inclusão da comunidade surda no Brasil. Instituída em 2008, a data lembra a criação da primeira escola para surdos no país, em 1857, no Rio de Janeiro, e busca dar visibilidade às lutas históricas e atuais dessa comunidade. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 10,7 milhões de brasileiros têm algum grau de surdez, o que representa aproximadamente 5% da população nacional.
Para a otorrinolaringologista Juliana Caixeta, o significado da data vai além da simbologia. “A pessoa surda enfrenta várias dificuldades: a falta de acessibilidade, pois muito do que se divulga nas mídias não tem legendas e nem está em Libras. Isso dificulta o acesso dessas pessoas a diversos locais. Muitas pessoas, por desinformação, não sabem como se comportar frente a alguém com surdez, isolando cada vez esses indivíduos. E não podemos deixar de mencionar o preconceito e o capacitismo, que precisam ser combatidos, inclusive em campanhas como essa”, destacou.
Apesar de avanços na legislação, como a Lei nº 10.436/2002, que reconheceu a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como meio legal de comunicação e expressão, ainda existem lacunas significativas. Dados do Instituto Locomotiva apontam que cerca de 80% das pessoas com deficiência no Brasil estão fora do mercado de trabalho, e, no caso das pessoas surdas, a ausência de intérpretes e de políticas inclusivas agrava a exclusão.
Segundo a otorrinolaringologista, muitas barreiras começam na comunicação cotidiana. “A pessoa surda possui algumas limitações na comunicação, mesmo quando a surdez não é total e mesmo quando o indivíduo está reabilitado. Muitas vezes, é preciso chamar a pessoa pelo nome antes de iniciar uma conversa, falar de frente e falar pausadamente, repetindo se necessário”, orienta.
Juliana Caixeta afirma que muitas pessoas não sabem como proceder. “Sabemos que nem todas as pessoas, nem mesmo os familiares, agem dessa forma com a pessoa surda. Muitas vezes, por timidez ou por não querer incomodar, as pessoas surdas evitam conversar claramente sobre suas necessidades, dificultando sua inserção nos diferentes ambientes”, explica.
Tecnologia como aliada
Nos últimos anos, a tecnologia se tornou uma grande aliada da acessibilidade, ampliando possibilidades de inclusão. O acesso a aparelhos auditivos digitais, implantes cocleares e aplicativos de tradução simultânea de Libras têm transformado a vida de milhares de pessoas.
“Hoje temos diversos tipos de aparelhos auditivos, com tecnologias modernas, que permitem uma melhor adaptação e um melhor desempenho. Existem, ainda, as próteses cirurgicamente implantáveis, que podem ter bons resultados em quem não se adaptou bem ao aparelho convencional. Vale lembrar que, quanto mais cedo a reabilitação, melhores os resultados”, afirmou a especialista.
Além da tecnologia, o fortalecimento da educação bilíngue — em português e Libras — é considerado um dos pilares para a inclusão plena da comunidade surda. Organizações da sociedade civil também têm desempenhado papel fundamental em campanhas de conscientização, no combate ao preconceito e na promoção da acessibilidade digital.
Juliana Caixeta reforça que o impacto da surdez vai além da audição. “A surdez tem impacto na comunicação, na interação social e na inserção do indivíduo no mercado de trabalho. Existem muitas possibilidades de reabilitação auditiva, então é importante procurar ajuda o mais cedo possível. A perda auditiva não tratada aumenta o isolamento social, aumenta o risco de depressão e de demência. A sociedade deve estar atenta e ter um olhar para essas pessoas, que merecem ter qualidade de vida como todas as outras pessoas”, concluiu.
FOTOS
Foto 1 – Foto 1 – Juliana Caixeta é médica otorrinolaringologista pediátrica – crédito: Karen Tondato
Foto 2 – Aprendizado de Libras como ferramenta de inclusão. crédito: Shutterstock
Serviço
Pauta: Semana Internacional das Pessoas Surdas reforça importância da inclusão e combate ao preconceito
Fonte especialista: Juliana Caixeta, médica otorrinolaringologista
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